quinta-feira, 25 de abril de 2013

Crescendo entre espinhos



            Tenho procurado ler o Novo Testamento em ordem, e no momento estou lendo o evangelho de Lucas. Hoje, uma porção me deteve: o capítulo 8, versos 9 a 15. A explicação da parábola do semeador é semelhante em Mateus e Marcos. Mas a descrição de Lucas sobre a semente que cai num terreno cheio de espinhos é diferente num ponto: nos outros evangelhos não há frutos, enquanto aqui o termo é que os frutos não amadurecem. Quer dizer a mesma coisa, mas Lucas, mais calculista, precisou o ponto exato para obtermos uma melhor compreensão. As palavras usadas para descrever a situação dessa pessoa são bem úteis: sufocados com as preocupações do mundo, com riquezas e deleites. Vamos analisar cada um desses impedimentos.
            O original da palavra sufocado é literalmente totalmente estrangulado. Uma pessoa tão sufocada pelas preocupações dessa vida que não tempo, espaço, para uma perfeita frutificação. Eu sei que hoje em dia, no tempo da internet, dos celulares e redes de amizade virtual, todos estamos, de certa forma, sufocados. Trabalho, família, igreja, escola, namoro, amizades, tarefas domésticas, finanças... Todos temos essas preocupações e o espaço de tempo além de curto, é escasso. Mas vemos que aqui não é somente necessário tempo, mas também foco.
            Quantas pessoas conseguem ir a um culto, ler a bíblia e meditar, de maneira que todas essas outras coisas fiquem a uma distancia razoável, para que possamos pelo menos arrazoar como está a nossa vida espiritual? Falando com alguns irmãos da minha igreja local, a reclamação, ou melhor, a resposta é sempre a mesma: não há tempo, e quando sobra um pouco, é dedicado ao descanso e lazer merecidos. Eu não estou dizendo em sacrificar este tempo, que é necessário (Jesus frequentava jantas e festas, é só você procurar). Mas todos nós se quisermos frutificar de forma eficaz precisamos tirar um tempo para meditar na palavra. Se a semente é a palavra (como Cristo afirma) significa que demanda tempo, trabalho e paciência para vê-la frutificar.
            Uma coisa que tenho feito, como exemplo, é repartir o período de intervalos entre refeições para ler alguma porção das escrituras. Por exemplo, saio de manhã cedo para trabalhar, e antes de sair, leio um capítulo da minha leitura proposta (no caso, o Novo Testamento). Apenas leio, não há tempo para meditar. Ao meio-dia, volto a ler mais uma vez e durante o tempo de descanso e almoço leio algum estudo bíblico, procuro por mensagens curtas mas objetivas na internet (procure, há muitas coisas boas e espiritualmente saudáveis). E depois do trabalho, separo um tempo para conversar com minha família, dar atenção. E então, depois de jantar, volto a ler a porção que havia lido de manhã. Claro que leio mais depois, mas procuro nunca deixar pontas soltas, ou seja, releio o capítulo e passo para o próximo. Medito, se há alguma dúvida, procuro solucioná-la em livros, na internet, bíblias de estudo que tenho no pc. Então, depois, vou ao berço, ainda meditando. É claro que a oração é necessária antes e depois do estudo. Na realidade, tenho aprendido que a melhor maneira de absorver os ensinos das escrituras é inicia-lo com oração e termina-lo com oração.
            É óbvio que não é plano fixo, duro. Tem dias, principalmente das famosas e necessárias horas extras que estou tão cansado que apenas leio um pouco, oro e vou dormir. Mas ultimamente, isso não tem acontecido. E sabe porque? Porque, naturalmente, a oração e a palavra me fazem buscar mais. Quero aprender como andar como Cristo: como ele enfrentaria os empecilhos que eu passo, se meus sentimentos, ainda mais os ruins, estão sendo moldados conforme a palavra, ou se meus pensamentos tem sido ocupados por coisas boas, agradáveis ao Senhor. Preocupações, todos temos. Sejam elas da igreja, família, finanças, amigos, relacionamentos, projetos e desejos. Mas quando começamos a incluir a palavra de Deus na nossa vida estas coisas não desaparecem, mas se tornam, incrivelmente, meios pela qual a graça e misericórdia de Deus se manifestam na nossa vida. E isso é fruto da palavra, que vai amadurecendo aos poucos, mas consistente e perseverantemente.
            O termo seguinte é riquezas. Eu sei que esse assunto é desgastante, ainda mais com a proliferação do evangelho de prosperidade. Infelizmente, até mesmo as igrejas têm deixado seus sermões com pendência para isso. E biblicamente, é errado. Não existe evangelho de prosperidade, existe o evangelho de Cristo. E em relação a isso ele é bem direto: é impossível servir a Deus e às riquezas (Mateus 6: 24). Todos nós precisamos de dinheiro, para tudo é necessário dinheiro. E é claro que quanto mais dinheiro, mas poder, maior a capacidade de se obter coisas. Mas até que ponto essa riqueza pode se tornar um empecilho para o fruto da palavra? Creio que a resposta seja exatamente essa: quando o fruto que desejamos é a riqueza.
            Quando usamos a palavra de Deus para qualquer outro fim que não seja a promoção da glória de Deus estamos semeando na carne. Em Gálatas 6: 8 Paulo ensina que o que semeia coisas para agradar sua própria carne dela semeará corrupção. O texto original diz o seguinte: o que semeia para sua própria carne. Amados, sejamos sinceros: alguém quer riqueza para glorificar a Deus realmente? Eu creio que Deus pode abençoar os crentes de maneira que eles possam viver de maneira digna e tranquila. Mas o grande problema da sociedade hoje não é falta de dinheiro: é o consumismo.
            Pare e pense: a luz das escrituras, você já não vive bem? E quando digo bem, falo de roupas para vestir, comida para comer? Todos nós gostamos dos mimos da tecnologia e conforto, e creio que não seja pecado desejar isso. Eu estou me preparando para tirar minha carteira e comprar minha moto (finalmente). Ainda que isso seja mais necessário do que qualquer outra coisa, tenho aprendido a confiar em Deus, na sua provisão. Eu trabalho, ganho o suficiente para pagar contas e projetar meu futuro. No momento, o meu futuro para este ano é esse: carteira e moto. Depois, quero me planejar para comprar meu terreno e casa, mas quem sabe até lá Deus não me prepara uma Rebeca (amém!)? Esse não é o problema. Mas será que meu anseio, desejo por coisas materiais não tem sido empecilho para minha busca a Deus? Ou pior, não são esses desejos que motivam buscar a Deus?
            Esse não é um problema exclusivo. Mais uma vez: é triste, frustrante, ver uma igreja que deveria estar formando cristãos moldados pela palavra encorajando crentes na busca de riquezas e confortos. O pior é saber que, por não ter sustentabilidade neo-testamentária utilizam o velho testamento, prendendo crentes num jugo que foi quebrado por Cristo. Amado, se você tem se frustrado por não ter coisas que os outros tem, ou mesmo por não possuir condições que você julgue necessário para seu viver, convido a você crer na providência divina e trabalhar e batalhar por estas coisas com uma perspectiva divina, onde todas as coisas, inclusive essas faltas e necessidades, cooperam para o seu bem, para conforma-lo a imagem e semelhança de Cristo (Romanos 8: 28, 29).
            O terceiro termo é mais sutil, mas extremamente profundo: os deleites da vida. O que seria isso? No sentido aqui quer dizer luxuria, prazer sensual. Não apenas em relação ao sexo, mas ao modo de viver secular. Significa se encantar com modo como o mundo vive e sua filosofia, suas práticas. Significa, digamos, mundanizar. Os deleites da vida são uma maneira de você tentar viver o evangelho e o mundo ao mesmo tempo, ou pior, tentar introduzir o secularismo na igreja. Isso produz implicações muito mais que pessoais: isso muda a cultura de uma igreja.
            O salmo primeiro fala de conselho dos ímpios. Este termo se refere a todos que não fazem parte do pacto com Deus feito entre os descendentes de Abraão, Isaque e Jacó. Todos os que não eram circundados. Por isso Davi chamou de incircunciso o gigante Golias. A questão é: haviam pessoas boas fora de Israel, pessoas integras, sinceras, corretas. Aliás, há um livro judeu dedicado a uma ímpia: Rute. No novo testamento, Paulo era fariseu mas profundo conhecedor da cultura pagã da época, o helenismo. Então, qual é o problema? Até que ponto modo de pensar secular é proveitoso para vida do crente?
            Esse é um ponto bastante polêmico que sempre causou discussões e divisões em igrejas pelo mundo todo. Não há uma resposta única, porque muitas práticas que hoje para nós são comuns, como bateria e guitarra dentro da igreja, e mais recentemente, danças e coreografias, eram coisas pecaminosas para muitos. Os chamados shows gospel ainda são tema de discussão e maneira como a música tem sido propagada no meio cristão tem influenciado um povo que deveria ser influenciado pela palavra.
            Afora isso, as mensagens e pregações humanistas, antropocêntricas tem tomado o lugar da cruz de Cristo, da oração, de uma vida piedosa. A teologia tem sido marginalizada, sendo trocada por estranhos moveres e unções. Estamos preferindo a experiência preterindo a confiança das escrituras. E mesmo tarefas que deveriam ser fundamentadas pela bíblia, como o evangelismo e ensino, têm sido inundadas pelo pragmatismo cristão que enfatiza dons e números e pouco trabalha a fundamentação espiritual baseada numa fé racional. Muitos acham que o racional é oposto ao espiritual, quando é exatamente o contrário. Pedro nos incita a responder com mansidão a razão da nossa fé (I Pedro 3: 15). É exatamente por crermos num livro confiável, correto, íntegro, que nossa fé cresce. Não cremos em contos de fadas, mas em Deus vivo e Santo que um dia voltará! Cremos que sua obra enaltece o caráter, o amor. Teologia não é conjunto de regras e métodos: é o único meio pelo qual podemos conhecer a Deus!
            O que não podemos misturar é o racional secular, baseado em números, prospectos, planejamentos e grandiosidade, e menosprezar que a igreja não é mercado ou loja, mas um organismo vivo que preza por santidade e incorruptibilidade. Isso significa que nem tudo que funciona no mundo funciona na igreja. E essa mentalidade que tem tomado nossas igrejas e lideres, que veem o povo como números para serem acrescentados mais números tem se alastrado e tem adoecido muitos que querem simplesmente viver para Deus, através de uma vida tranquila, comum. Isso não significa parada, preguiçosa, mas uma vida onde nossa verdadeira paz repousa em Cristo e não em nossas realizações e projetos (João 16: 33; Efésios 2: 14). Nossa verdadeira preocupação máxima deveria ser frutificar, não somente salvando vidas, mas crescendo em graça e conhecimento (II Pedro 3: 18), em santificação (I Coríntios 1: 30; II Coríntios 7: 1; I Tessalonicenses 4: 3), e humildade (Mateus 18: 4; Romanos 12: 16; Filipenses 2 : 3).
            Ainda que não existam respostas definitivas em relação a este mundanismo, quero acreditar que se isso tem nos tornando infrutíferos, precisamos rever alguns conceitos entre o aceitável e o inaceitável dentro das nossas igrejas. Frutos aqui não são números apenas. Nossas igrejas são cheias pessoas más, problemáticas, orgulhosas, maldosas, vingativas e doentes emocionalmente e espiritualmente. Dentre essas pessoas estou eu. E a única forma de nossas vida frutificarem em Cristo é semeando a palavra de forma que minha vida seja um bom terreno. Dou graças porque Cristo não nos deixou órfãos: que o Espírito Santo nos prepare para que recebamos a palavra com fé e mansidão, de forma que frutifiquemos a dez, cinquenta ou cem.
           
           
           
           

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente com temperança e mansidão. Se de alguma forma não concordar com alguma coisa, ou verificar algum erro ou discordância com a Bíblia, esteja livre para comentar. O Objetivo deste blog é simplesmente compartilhar com os irmãos em Cristo sobre a necessidade da genuína transformação através da Palavra de Deus. Por isso, vigie, não use palavras de baixo calão, acima de tudo, que seja sempre para edificação