A
carta de Paulo aos Romanos é considerada o ápice da teologia evangélica. Há tantas
coisas reveladas nesta carta, que podemos continuar a estuda-la e ficar
estupefatos com a quantidade de revelações que encontramos nela. Não sou um
teólogo por formação, estou mais para curioso, autodidata, se preferir. Mas entendo
o amor de Lutero a esta carta. O plano de Deus, o papel dos judeus no reino dos
céus, o pecado, ira de Deus, justificação, trato com o próximo...·.
Mas
quero chamar a atenção do amigo leitor para os versos que Paulo trata sobre
como devemos tratar os dons na igreja e nossos irmãos. Romanos 12 é um dos capítulos
mais claros sobre o desejo de Paulo sobre o comportamento do crente como membro
da igreja. A partir do verso 3 ele começa a falar sobre como devemos tratar os
demais membros e como devemos vê-los em relação a nós. A primeira noção,
corpórea, Paulo usa a maneira como o corpo possui vários membros, sendo eles
todos necessários. Em seguida
Paulo fala sobre cada ministério em particular (Romanos 12: 7,8). Mas creio que
o resumo do capítulo seja o verso 16: não
ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes. Esse verso parece
ser uma antítese de I Coríntios 12: 31, quando Paulo nos exorta a buscar os
melhores dons (dos quais a seguir ele usa um capitulo inteiro para falar do
maior, o 13). Sabe qual é o problema: nossa visão humanista nos diz que o
melhor e maior só o é em comparação ao menor. A nossa dogmática nas igrejas
hoje usa o mesmo sistema de competitividade das empresas, onde só existe uma
empresa melhor enquanto outra não a supera-la. Não foi uma ou duas vezes que
ouvi na congregação frases do tipo: A
nossa congregação é mais importante, tem mais jovens, ou, nossos congressos devem ser exemplo para os
outros, ou coisas piores como nossa
igreja é melhor que as outras. Por mais que líderes usem o argumento
motivacional (que eu odeio, abomino, com todo o meu coração ver isso nas
igrejas!), o fato é que isso alimenta na igreja uma espécie de rat race evangélica. Esse é um termo
usado por executivos americanos para falar sobre a corrida do primeiro milhão
da carreira dos famosos yuppies (executivos
jovens do Wall Street). O sentimento que isso gera dentro de uma congregação é
devastador. É muito comum vermos divisões de departamentos (Jovens, Irmãs,
Missões e Evangelismo, adolescentes) um microcosmo rival, onde cada um deles
possui ações específicas e únicas, pelas quais somente eles são responsáveis. Não
há cooperação. Ajuda. É comum vermos troca de dirigentes serem motivos de briguinhas, pois é normal um líder ter
uma visão mais voltada para o amadurecimento (investindo em missões, ensino,
irmãs) e outro com um escopo mais ousado (jovens, adolescentes, crianças).
É
óbvio que o ideal seria uma espécie de temperança, mas se olharmos para dois
grandes líderes do velho testamento (Moisés e Josué), veremos num um homem cuja
marca foi a experiência, o teste de amadurecimento e com outro um conquistar,
guerreiro. Não que ambos não tivessem características semelhantes, mas é tácito
que suas diferenças moldaram suas gerações. Mas houve uma continuidade, coisa
que nas igrejas de hoje, é difícil.
Eu
sei que quando pastores qualificam suas igrejas eles estão tentando ganhar
influência, afim de não perder membros. Começam a colocar a por b porque suas
igrejas são mais diferenciadas, seja pelo estilo conservador ou liberal. Isso sempre
houve, mesmo na igreja primitiva (a discussão de Paulo e Pedro sobre cristãos
judeus e cristãos gentios). O grande problema é que na antiga igreja houve um
consenso de paz, onde as diferenças foram minimizadas (não retiradas) com a
ideia de que cada crente deveria continuar naquilo que foi chamado (Atos 15, I
Coríntios 7: 24, e de preferência leia toda a carta aos Gálatas).
Eu
creio firmemente que, ainda que vezes o evangelho seja pregado de forma
distorcida, estes ministérios têm formado crentes fiéis, pela simples graça de
Deus e não por suas qualificações. O problema é que este tipo de pensamento tem
gerado crentes com tendências megalomaníacas, onde, no lugar da semente da
palavra, o ego tem sido semeado. A palavra se torna uma ferramenta, uma arma
contra os próprios irmãos da igreja. Crentes presunçosos, orgulhosos, amantes
de si mesmos e de suas visões. Tenho que aceitar o fato de que minha visão
também semeia isso (somos propensos a radicalismos). Quando eu digo que
precisamos voltar ao cristianismo bíblico, sempre corro o perigo de deixar manifestações
pentecostais (das quais creio) em detrimento ao estilo mais conservador, duro.
Eu corro o risco de querer explicar demais coisas que somente através de experiências
espirituais podem ser entendidas. É por esse motivo que sempre peço a Deus um
direcionamento temperado, moderado.
E
é neste ponto que entra a humildade, o sal do cristão. Se quisermos testar
nossa visão, nosso trabalho, nosso modo de viver, a maneira como obedeço,
prego, louvo, lidero, precisamos testar o nosso olhar crítico nos comparando ao
que a bíblia descreve com exemplos por todos os livros do antigo e novo
testamento.
Por
exemplo, José, governador do Egito. Quem não gostaria de ser governador de um
dos maiores reinos da história da humanidade. Mas se vermos as provações de
José como ardis do inimigo, e a experiência de rever os irmãos como exemplo de
justiça divina (nunca me esqueço de uma mensagem que me motivou muito sobre
José, num grande congresso pentecostal) cairemos na armadilha do orgulho,
prepotência. Já vi muitos pregadores contarem histórias lindas pela metade (como
a do rei Uzias, que durante um bom tempo reinou e obedeceu a Deus, mas teve
tanto orgulho de si mesmo que acabou se tornando um rei perverso no final, como
conta II Crônicas 26). Mas a mesma história é contada pelo próprio José pela
perspectiva divina, na qual o ato dos irmãos foi direcionado por Deus, a fim de
salvar eles próprios, por causa da promessa feita a Abraão (Gêneses 45: 4 a 8;
50: 19 ,20 ,21).
A
verdadeira humildade não significa necessariamente humilhação (mesmo que muitas
vezes faça parte do processo), mas um sentimento baseado na convicção de que
Deus está no controle. Se pregar, prego porque Deus está no controle, e não por
causa de minhas qualificações ou talentos. Se cantar, canto pela graça de Deus,
ainda que pessoas que não possuem uma voz tão bela e afinada consigam abençoar
muitos pela sua sinceridade e paixão. Eu não estou falando em se acostumar, ou
desleixo. Se em coisas mundanas é necessário qualificação, quanto mais a obra
de Deus.
É
por isso a necessidade de conhecer mais a Deus, Cristo e o Espírito pela
palavra. É nela que se encontram exemplo de homens e mulheres que passaram
situações semelhantes as nossas, e é ali que encontramos em forma de doutrina o
verdadeiro fervor cristão. Oração sem Bíblia gera ações e palavras
inconsequentes, porque oração é simplesmente um clamor do coração, que segundo
a Bíblia, é enganoso e perverso (Jeremias 17: 9). Mas uma oração com um coração
cheio da palavra torna-se uma oração de fé, cheia de poder e graça de Deus, que
nos molda segundo o coração de Cristo, que é manso e humilde (Mateus 11: 29).
Imaginemos
se Jesus tivesse um coração como a de muitos crentes, ou parecido com as
mensagens pregadas em muitos púlpitos hoje, sem aceitação de derrotas ou
humilhações, buscando apenas proveito próprio em tudo. Será que Cristo se
deixaria ser tentado por Satanás no deserto? Pior, teria ele aceitado a cruz?
Por
isso Paulo aconselha aos Filipenses:
De sorte que haja entre vós o mesmo
sentimento que houve em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por
usurpação ser igual a Deus; mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de
servo, fazendo-se semelhante a homens, e achado na forma de homem, humilhou-se
a si mesmo, sendo obediente até a morte, e morte de cruz.” Efésios 2: 5 a 8.
Em
I Pedro 5: 5 Pedro nos diz (a nós jovens, mas creio que seja uma mensagem
universal), que não só devemos ser humildes: devemos nos revestir de humildade.
Em Provérbios 15: 33 a humildade precede a honra.
Sem
humildade, não podemos nos achegar a Deus, pois o caminho até ele se chama
humilhação (Tiago 4: 6 a 10 e I Pedro 5: 6). Irmão, te convido a uma reflexão:
a maneira como você trata seu ministério e seu próximo é biblicamente humilde,
servidor, ou a arrogância e orgulho são bases do teu ministério? Vá às
escrituras, busque em Deus um auxilio. Creio que, independente da sua resposta,
todos nós precisamos ter em nós o mesmo sentimento de Cristo.
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