Onde
está o poder de Deus?
O
evangelismo atual adota um sistema simples e frutífero: o mercadológico. Ele
diz que as pessoas vão comprar produtos que ou lhe sejam necessários (comida,
roupa, casa) ou que o produto se torne necessário (tecnologias, entretenimento...). Mas quando eu olho para o livro de Atos vejo
um sistema diferente. Um sistema chamado evangelho.
Na
realidade, o evangelho é muito parecido com o sistema mercadológico: ele também
oferece algo que as pessoas precisam. A diferença é que ela não querem. Segundo
Leonard Ravenhill, o evangelho foi experimentado, estudado e rejeitado por
aqueles que deveriam aceitar.
Outra
diferença do evangelho é como é apresentado: se na publicidade a propagando
positiva é a alma do negócio, o evangelho é escandaloso porque expõe todos os
pecados, erros, malignidades da pessoa que é exposta a ele. Tanto é que na primeira
pregação, o texto de Atos disse que muitos que ouviram ficaram com o coração
compungido.
O
engraçado é que imaginamos que isso que eles sentiram foi algo do tipo
emocional, triste, choroso, tristonho ( Atos 2: 37). Mas o termo original para
o que eles sentiram naquele momento é algo muito incomum de se ouvir: vem do
grego katanusso: perfurar
completamente, agitar violentamente. Não foi um simples sentimento. O poder
daquela mensagem abalou estruturas muito mais profundas. Creio que foi nesse
sentido que escritor de Hebreus escreveu ao falar que a palavra de Deus é viva e eficaz, mais cortante que uma espada de dois
gumes, que penetra até a divisão da alma e espírito, juntas e medulas, é apta
para discernir pensamentos e propósitos do coração (Hebreus 4: 12).
E
quando Paulo e Silas foram presos em Efésios? Terra tremeu, cadeias foram
abertas...e o carcereiro, que estava dormindo, foi acordado para uma realidade
assustadora: ele precisava ser salvo.
Comecei
um curso teológico (a distância, teologia básica). O primeiro módulo foi o
estudo dos atributos de Deus. Bem, é de se imaginar que vá falar de Deus. Mas
logo no primeiro capítulo fui simplesmente bombardeado por ensinos filosóficos,
teístas, científicos, que se propunha a provar a existência de Deus. Nenhum
versículo bíblico.
Eu
poderia enumerar muitas questões em relação a falta de bíblia em nossas
igrejas, mas acho que seria tornar superficial um assunto que merece muito mais
do repreensões e acusações a uma igreja que caminha a passo largos ao
esfriamento do amor. Sinceramente, há muito, muito tempo não vejo conversões
verdadeiras, do tipo que aconteceu em Atos. Mas há exceções.
Estes
dias ouvi um novo convertido da nossa igreja local testemunhando, fora do
culto, no happy hour gospel. É lindo
demais. Uma pessoa que reconhece a grandeza de Deus face a sua mediocridade,
alguém que se sente amado por um Deus que tinha todos os motivos para
abandoná-lo. Ele me disse: Sabe o que é
você sentir algo que você não sabe explicar? Mas sentir de tal forma que isso é
real? Como se algo tivesse brotando aqui de dentro?. Eu disse: Sei. Claro que eu sei. Mas a minha
pergunta é: porque não me sinto mais assim?
Ah, mas novo convertido é assim mesmo...a
gente amadurece...Começo a entender que este é o engodo de Satanás que tem
levado muitos crentes a uma frieza tão grande na igreja que muitos não percebem
porque há falta de fogo do Espírito Santo. Pergunte a pinguim se está frio e
ele dirá que está normal.
Me
senti um cubo de gelo perto do irmão. Estou cada mais crente de que a “temperatura”
espiritual de um cristão se deve completamente do seu entendimento sobre a
graça de Deus, seu amor, sua obra, do que necessariamente basear-se apenas em
experiências ou só em conhecimento. Ele não é homem de grandes conhecimentos ou
experiências espirituais. Mas diante da graça de Deus ele apenas sabe que Deus
o ama. Sim, precisamos crescer e amadurecer, mas não no crescimento em si ou no
amadurecimento em si, mas no conhecimento e graça de Jesus! (II Pedro 3: 18).
Quando
olho o livro de Atos não vejo somente pessoas oprimidas, necessitadas. Vejo
pessoas comuns que estavam em lugares comuns na sua vida mas que pelo poder da
palavra e do testemunho dos apóstolos foram mudadas de forma total.
Sabe
o que é pior? É que muitos, ao ficarem perto de tochas vivas como esse irmão
são capazes de desdenhar e dizer: Benção,
é bom ouvir histórias de vez em quando...ou...Novo convertido, um dia ele aprende... Sou capaz de dizer que
naquele momento todo conhecimento possível das Escrituras somente são poderosas
na vida de pessoas assim: cientes presença e graça de Deus.
O
evangelho não é comercial de margarina. Muito menos de pasta de dentes ou de
algum plano de seguro. É poder de Deus. Eu não estou falando que de andar por
aí falando em línguas estranhas ou se tornar alucinado por experiências; muito
menos de se encher de conhecimento. Deus sabe a estrutura de cada um. Amo ler
histórias de grandes homens e mulheres de Deus, mas aprendi a não me medir por
eles. Isso é muito pouco diante daquele a qual todo joelho um dia se dobrará e
toda língua confessará.
A
saída? Voltar às escrituras. Mas já não vamos a elas todas as terças, quintas,
sábados e domingos? Se pelo menos houvesse exposição e pregação bíblica,
talvez. Mas se elas fossem bíblicas produziriam crentes bíblicos, coisa que não
posso afirmar com clareza. Mas posso dizer que muitas das mensagens que ouvimos
por aí carecem de poder de Deus.
Não
um poder pirotécnico de pulos, saltos ornamentais ou frases de efeito. Falo de
pregações que nos motivem a orar mais, buscar mais. Na última aula teológica, o
pastor indagou como levar o povo a orar. Muito se falou de estratégia. Bem,
para os apóstolos bastou a promessa do revestimento de poder. Isso não nos é
suficiente, ou nos achamos superior a eles?